BLOG Oficinas Inspiração completam 7 anos e mostram que reciclagem vai muito além do meio ambiente: transforma vidas

Oficinas Inspiração completam 7 anos e mostram que reciclagem vai muito além do meio ambiente: transforma vidas

Publicado em 01/09/2025


- Projeto une reciclagem de eletrônicos e preservação ambiental à geração de trabalho e renda para pessoas em tratamento psiquiátrico -

Em setembro, a Fundação Espírita Allan Kardec, de Franca, celebra sete anos do projeto Oficinas Inspiração, uma iniciativa filantrópica que alia sustentabilidade, geração de trabalho e renda, além de inclusão social, para pessoas em tratamento na área da saúde mental. O destaque fica para a Oficina de Reciclagem de Eletrônicos, primeira implantada em 2018, que tem mudado a trajetória de dezenas de participantes - os chamados oficineiros.

A proposta é simples, mas de grande impacto: eletrônicos sem uso ou quebrados, que seriam descartados, se transformam em fonte de renda, autonomia e dignidade. Ao doar equipamentos para a oficina, a comunidade contribui não apenas para a preservação ambiental, mas também para um projeto que devolve esperança, cidadania e autoestima.

“Quando alguém traz um celular, uma televisão ou um computador para a oficina, esse gesto significa muito mais do que reciclagem. Significa transformar a vida de alguém que está se reencontrando depois de um período difícil, significa oferecer oportunidade, inclusão e dignidade”, explica Renata Vieitez, coordenadora das Oficinas Inspiração.

Histórias que inspiram
Os depoimentos dos oficineiros refletem a força dessa iniciativa, mostrando que, mais do que reciclar materiais, o projeto recicla vidas.

Leidiane França Barroso, 37 anos, viveu tempos de muita dor: com depressão profunda e esquizofrenia, passou por três internações e chegou a vagar pelas ruas. Houve dias em que permaneceu em um quarto escuro, sem água e sem luz.

A rotina mudou quando passou a integrar a oficina, há dois anos. Hoje, com a renda do trabalho, montou sua própria casa, comprando eletrodomésticos básicos na própria oficina. Usa a bolsa-auxílio do projeto, que recebe mensalmente, para comprar roupas e produtos de beleza.

Ela também conquistou autonomia. Deixou a casa da tutora para morar sozinha há três meses e cuida do seu lar com orgulho. “Depois da oficina eu me encontrei! Tenho rotina, cuido da minha casinha, voltei para a igreja, conquistei liberdade e voltei a sonhar. Quero estudar, fazer um curso técnico ou profissionalizante. A maior lição que a Oficina me ensinou é que nada é impossível para Deus”, afirma.

Para além da estabilidade financeira, Leidiane conquistou amizades, autocontrole sobre os sintomas da doença e a sensação de dignidade que parecia perdida.




Geovane Eurípedes dos Santos, 49 anos, também teve sua vida transformada. Antes, passava os dias recluso em casa, dependente de pequenas ajudas financeiras do pai e do irmão. Com a chegada da oficina, conquistou independência: comprou uma bicicleta para não ter que depender de ônibus para ir trabalhar. Todos os dias, ele pedala cerca de 10 km para chegar e retornar do trabalho para casa.

“A oficina foi o maior presente que Deus me deu. Nunca pensei que fosse conseguir um emprego. Hoje eu ajudo em casa, tenho meu próprio dinheiro e até guardo um pouco para os imprevistos, como se o pneu da minha bicicleta furar. Isso mudou tudo para mim.”

Entre os primeiros a vestir a camiseta do projeto está Marciel Silva, 48 anos. Diagnosticado com esquizofrenia paranoide aos 18 anos, viveu uma juventude marcada por agressividade e internações. Quando entrou para a Oficina de Reciclagem, encontrou mais que trabalho: encontrou estabilidade. O salário, embora simples, proporciona orgulho e autoestima.

“Comprei um relógio numa relojoaria no shopping aqui em Franca, parcelei no cartão, mas já paguei tudo. Agora eu tenho hora para tudo, não chego atrasado no trabalho. Também compro minhas roupas, corto o cabelo com o dinheiro que ganho. O trabalho me trouxe outra vida”, conta, exibindo o relógio azul como um troféu.




Já Lidiane de Fátima Guimarães, aos 50 anos, descobriu no ambiente acolhedor da oficina um novo jeito de se relacionar. Há muito tempo convive com depressão, síndrome do pânico e ansiedade, e estava trabalhando numa fábrica de borracha.

Ela se lembra de como se sentia invisível. “No mercado formal, eles faziam piadinhas por causa do meu jeito de ser. Aqui, eles olham para a gente como pessoa. Me senti respeitada e acolhida, voltei a conversar com as pessoas e me sinto melhor”, afirma.

Familiares
A diarista Geovania Pires da Costa, tutora da oficineira Leidiane, acompanhou de perto a transformação dela desde que passou a integrar a Oficina de Reciclagem de Eletrônicos.

“A mudança foi gigante. Nem acredito. Quem conheceu a Leidiane no passado não reconhece a pessoa que ela se tornou agora. Não é a mesma Leidiane! Claro que houve todo o trabalho da equipe do CAPS, do Allan Kardec e, principalmente, a força de vontade dela, mas a oficina foi fundamental nesse processo.”

Segundo narrou, Leidiane era agressiva, tinha surtos frequentes e vivia em sofrimento. “Não foi fácil. Mas, com as regras da oficina, ela aprendeu a ser responsável, a ter rotina e compromisso. Esse trabalho ajudou demais a reeducar e transformar a vida dela. Hoje, vejo a Leidiane alegre, independente e agora é ela que cuida de mim.”

Como funcionam
O projeto funciona de maneira semelhante a uma cooperativa. Atualmente, o projeto mantém três oficinas em funcionamento. A primeira delas foi a Oficina de Reciclagem de Eletrônicos, criada em 2018, que se tornou referência pela combinação entre sustentabilidade e impacto social.

Em 2019, o projeto ganhou reforço com a Oficina de Costura em Couro - hoje focada na Montagem de Sacolas de Papel, voltada à prestação de serviços para gráficas parceiras. No mesmo ano, surgiu também a Oficina Agrícola, dedicada à produção de hortaliças orgânicas, cultivadas sem agrotóxicos e comercializadas a preços acessíveis diretamente na Fundação.

Atualmente, 50 pessoas participam das oficinas. Para integrar o grupo, é necessário estar em tratamento em saúde mental, seja na rede pública ou privada. Toda renda gerada pela venda de produtos ou pela prestação de serviços é revertida em forma de bolsa-oficina, um auxílio que garante independência aos participantes.

Além da renda, os oficineiros recebem alimentação durante a jornada de trabalho, oferecida pela instituição.

Balanço positivo
Ao longo de sete anos, a avaliação é de conquistas que vão muito além do aspecto financeiro. “As pessoas aqui estão mais estáveis, diminuíram os surtos e internações, passaram a cuidar da saúde física, da alimentação, a tomar corretamente a medicação. Mas, sobretudo, passaram a acreditar em si mesmas. Estão mais felizes, realizando sonhos, morando sozinhas, ajudando suas famílias. É a prova de que dignidade e inclusão transformam vidas”, resume Renata Vieitez.

Como contribuir
A comunidade pode participar ativamente dessa corrente de transformação de diferentes maneiras. Uma delas é doando aparelhos eletrônicos sem uso ou quebrados, que são a base de funcionamento da Oficina de Reciclagem. Cada equipamento recebido é desmontado e reaproveitado, gerando renda e novas oportunidades para os oficineiros.

Outra forma de apoio é adquirindo as hortaliças orgânicas cultivadas na Oficina Agrícola, comercializadas diretamente na Fundação. Além de garantir alimentos frescos e sem agrotóxicos, a compra fortalece o trabalho dos participantes e ajuda a sustentar o projeto.

Onde doar
Oficinas Inspiração

Rua José Marques Garcia, 675, Franca-SP
Como chegar: https://goo.gl/maps/Xw1thYSqUDRNTMz76

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